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Entrevista: Sergio Napp, autor de Houve um verão

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Sergio Napp é um dos mais profícuos autores do Rio Grande do Sul, tendo publicado, em mais de 40 anos de carreira, literatura infantil, juvenil, adulta, crônica e poesia, reunidos em mais de 15 livros. É letrista premiado e tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais. Entre suas composições, está o clássico do regionalismo gaúcho, Desgarrados.

Estreia na 8INVERSO com Houve um verão, um romance juvenil narrado em primeira pessoa que acompanha uma personagem desde a infância até a vida adulta, com as lembranças dos amigos e a saudade dos momentos ao lado do pai. Na conversa abaixo, Napp fala sobre esta obra, seu trabalho com literatura e muito mais. Boa leitura!

Que identificação pode ocorrer entre os leitores de Houve um verão e o personagem da história, o jovem Gabriel?
Creio que muitas. Gabriel é um menino/adolescente típico destes que encontramos por ai: irreverente, desencanado, cheio de energia e com vontade de vencer na vida. Ao mesmo tempo, passa por diversas etapas em seu desenvolvimento: perde o pai, tem problemas no colégio, passa por situações limites e atuais (bullying, diversidade sexual, descoberta do sexo). Possui um lado místico. Sabe o que deseja da vida. E mais: tem um diálogo com a mãe que o faz enfrentar tudo de peito aberto. Diálogo este, que a meu ver, é fundamental nos dias de hoje para o entendimento com esta geração. E que tem faltado muito, o que acarreta uma série de problemas para os adolescentes. Gabriel, é um retrato do jovem do hoje e, por isso, penso que este jovem possa se encontrar nele. Há poucos dias, falando com uma pessoa adulta que está lendo o livro, ela me disse que este livro deveria ser lido pelos pais e depois discutido com os filhos. Confesso que esta ideia não havia passado pela cabeça enlouquecida do autor, mas talvez fosse interessante. Muitos problemas de relacionamento poderiam ser resolvidos.

Tu te dedicas a muitos gêneros textuais: literatura para jovens e crianças, poemas e letras de canções. Qual desses gêneros é o mais desafiador?
No meu entender, a poesia. É a mais completa forma de literatura, embora bastante subjetiva e, por vezes, de difícil interpretação. Não por outro motivo os professores nem sempre optam por sua leitura e estudo em sala de aula. E as editoras têm medo de publicá-la. A poesia possui, fundamentalmente, metáforas. Elas, muitas vezes, desconcertam o leitor. A poesia, mais do que a prosa, nos obriga a pensar, a interpretar, a buscar o cerne do que o autor desejou expressar. Dizem os entendidos que, na ficção é possível errar e corrigir o erro. Na poesia, não.

Fui um adolescente muito curioso: gostava de descobrir palavras novas onde estivesse para aproveitá-las nas redações escolares. Sempre tive muito cuidado naquilo que escrevia. Talvez este somatório tenha me levado a escrever. Nunca pensei em ser escritor, mas sempre gostei de escrever.

A escola teve algum papel na sua formação como leitor – e, mais tarde, como escritor?
Nenhuma. No meu tempo não havia trabalho em sala de aula voltado para a leitura/literatura. Aprendíamos português, gramática. Meu gosto/hábito/prazer com a leitura se fez em função de uma pequena biblioteca que meu pai, um não leitor, por razões ignoradas, constituiu. Havia de tudo: desde a alta literatura até livros eróticos/pornográficos, passando por policiais e outros. Pude ler o que me aprazia e o que a minha curiosidade mandava sem nenhuma interferência dos pais. Guardo até hoje comigo alguns títulos desta biblioteca: As vinhas da Ira, do Steinbeck; Judas, o obscuro, Thomas Hardy; O amante de Lady Chaterley, Lawrence. Interessante: não havia nenhum exemplar de literatura infantojuvenil. Só fui ler este gênero quando adulto. Fui um adolescente muito curioso: gostava de descobrir palavras novas onde estivesse para aproveitá-las nas redações escolares. Sempre tive muito cuidado naquilo que escrevia. Talvez este somatório tenha me levado a escrever. Nunca pensei em ser escritor, mas sempre gostei de escrever.

Apesar dos esforços governamentais e sociais, o índice de leitura anual entre os brasileiros continua abaixo de alguns países vizinhos. Como o escritor pode ajudar a melhorar este panorama?
O gosto/hábito/prazer pela leitura é um processo. Deve ser contínuo. Mesmo que todos os escritores do mundo se pusessem a fazer palestras, encontros, oficinas, debates, de nada adiantaria se esta ação fosse apenas eventual. O processo, como já disse, deve ser contínuo e ir além: desenvolvido nas salas de aula, no colégio como um todo, e, principalmente, em casa, com os familiares. Os contadores de histórias familiares (em desuso) são fundamentais no processo. Mas como neste país, cultura e educação são supérfluos, temo que estes índices não melhorem com o correr do tempo. Há ainda a considerar que ninguém é obrigado a gostar de ler. Isto é individual. Há tantas coisas das quais eu não gosto, que não me interessam. Temos que admitir que o mesmo se dá no campo da leitura.

Sou terrivelmente indisciplinado nas minhas criações. Estou sempre escrevendo várias coisas ao mesmo tempo, muitas das quais não são concluídas. Tenho novelas de 50 a 80 páginas escritas e que, muito provável, jamais serão concluídas.

Como tu lidas com os bloqueios criativos? Eles acontecem?
Acontecem. Mas eu sou terrivelmente indisciplinado nas minhas criações. Estou sempre escrevendo várias coisas ao mesmo tempo, muitas das quais não são concluídas. Tenho novelas de 50 a 80 páginas escritas e que, muito provável, jamais serão concluídas. Tenho sempre, graças a Deus, assuntos novos para desenvolver. Mas, há momentos, em que a frase/palavra foge, o diálogo não se faz, a construção do personagem não satisfaz, a situação imaginada não acontece. Então bloqueamos. Não há solução mágica: é esperar ou partir pra outra.

Como fica o coração do escritor entre o envio do texto para a editora e o recebimento dos primeiros exemplares direto da gráfica?
A maior expectativa é saber se o texto será aprovado ou não. É neste momento que o coração quase arrebenta. Que o sono não vem. Que a boca seca. Depois da alegria incontida de saber que o teu original foi aceito, vê-lo concretizado é outra etapa, importante sim, mas não tanto quanto a primeira.

 

Houve um verão está à venda em livrarias pelo Brasil e neste site.


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